terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quem acredita no trem-bala?

Já houve quem dissesse que ninguém pode ser contra uma estrada no Brasil, um país ainda subdesenvolvido, e muito, em matéria de transporte. Agora, há ambientalistas que fazem tenebrosas previsões sobre estradas cortando a Amazônia. Bem, mas ninguém que eu saiba é contra sobre transporte em massa sobre trilhos. Mas trem-bala, nesse pós-campeonato, merecidamente ganho pelo Flamengo, é como um sonho de uma noite de chuva torrencial de verão. O custo é de nada menos de R$ 24 bilhões, isto é, o custo orçado, pois, como já é parte do nosso folclore político, uma obra desse porte não sai sem um acréscimo de 80% a 100%, sem levar em conta a inflação e presumindo - o que é uma presunção temerária - que haja um mínimo de corrupção. E quem vai bancar esse Trem de Alta Velocidade (TVA)? O governo, claro, prevendo-se um financiamento de R$ 20,9 bilhões do BNDES.

Se será necessário um financiamento público dessa proporção, por que realizar licitação para a seleção de investidores privados interessados no projeto? Por que o governo não banca sozinho a empreitada, mesmo porque, como mostra a experiência internacional, esses TVA costumam dar anos de prejuizos ou apresentar baixíssimos lucros antes de proporcionar uma boa remuneração para os investidores. Um bom exemplo é o trem-bala sob o Canal da Mancha - o Eurostar -, considerado um péssimo investimento. Até agora, a demanda pelo trem ligando Londres e Paris, em 2 horas e 35 minutos, por terra e pelo eurotúnel não é compatível com o investimento feito e, para salvar alguma coisa, pensa-se em estendê-lo, nas ponta inglesa e francesa. Turistas estrangeiros, ingleses, franceses e belgas (há ligação também com Bruxelas) têm preferido o avião, que faz o percurso Londres e a Paris em uma hora. E o brasileiros, que vão e vêm de São Paulo e Rio, muitas vezes em um dia só, poderiam preferir a via aérea, se, principalmente, os aeroportos fossem mais acessíveis.

Já estaria muito bom se tivéssemos um metrô que levasse os sofridos viajantes brasileiros ao aeroporto de Guarulhos, evitando o trânsito nas sempre engarrafada Marginal do Tietê, que foi feito mesmo para ser uma garrafa. E seria ótimo se o transporte sobre trilhos se estendesse a Viracopos, alternativa para Guarulhos, ou mesmo até Campinas, que fica a pertinho. Agora, fazer um trem-bala de São Paulo até o Rio, gastando bilhões para fazer desapropriações e remover montanhas, para ficar pronto até as Olimpíadas de 2016, é aquele tipo de obra que fica para o próximo governo e daí para o seguinte e daí para o São Nunca, um santo da especial devoção dos nossos governantes.

Seria muito mais sensato que fosse aprovado um projeto mais modesto, resolvendo o congestionamento das vias de acesso aos principais aeroportos paulistas, que são e continuarão sendo os mais movimentados do País. E que, com o dinheiro que sobrasse (se sobrasse), o governo destinasse os recursos ao combate de enchentes. Quando se fala nos problemas deste País abençoado por Deus, não merecem menção as cheias anuais, as chamadas catástrofes naturais, que derrubam encostas, matam muita gente dormindo e acordada, causam enormes prejuizos aos mais pobres, levam carros na enxurrada e causam centenas de quilômetros de congestionamento nas cidades. Não estou falando da cidade de São Paulo. Mas de também de Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, Salvador. E não estou falando só de capitais e de grande metrópoles, mas de inúmeras cidades do interior à beira de rios e de lagoas.

Parece que o Brasil se esqueceu que é "um país tropical e chuvoso", como dizia Tom Jobim. E tome tempestade, e tome dengue, tifo, febre terçã...

2 comentários:

  1. muito esclarecedor... bom poder voltar a ler seus textos, Klaus. abs, Alexandre Staut

    ResponderExcluir
  2. Klaus, acabo de descobrir seu blog. Adorei. Espeto que visite tb o meu
    http://www.dietegourmet.blogspot.com. Saudades
    Regina Neves

    ResponderExcluir