segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Muito barulho por dígitos

Causou muito alvoroço no início de dezembro a divulgação pelo IBGE de que a economia brasileira no terceiro trimestre cresceu "apenas" 1,3%. Houve decepção de muita gente, mesmo porque, no dia anterior à divulgação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia declarado que o PIB no terceiro trimestre cresceria 2%. É compreensível que o ministro tenha ficado "indignado" com o IBGE, como se noticiou, mas, na realidade, saber se a economia cresceu 1,3% já é, em si, uma boa notícia. Significa que o Brasil livrou-se da estatística recessiva, depois de dois trimestres negros. Se a taxa não chegou a 2% não interessa muito. Os sabichões do mercado, que erram mais que acertam, já estão projetando uma queda do PIB, em todo ano de 2009, em 0,26%. É muito pessimismo. A melhor aposta é que será uma taxa diferente de zero, mas positiva, o que já está muito bom e, o que é realmente importante, não muda as perspectivas para 2010.
Se quiserem olhar pelo retrovisor, o País está muito bem, comparativamente. Segundo projeções da abalizada revista The Economist (12/12), o PIB dos Estados Unidos em 2009 pode ter uma variação de -2,5%, o do Japão, -5,4%, da Grã-Bretanha, -4,5%, e o da Área do Euro, -3,8%, E como vão nosso vizinhos? Bem ruizinhos também: a previsão da revista para o PIB da Argentina é de -0,5, do Chile, -1,2%, do México, -7,1% e da Venezuela-3,0. Salva-se a Colômbia com uma taxa positiva de 0,2%, mais ou menos igual à do Brasil. Por sinal, a revista britânica, prevê para o Brasil um crescimento nulo (dado calculado antes da recente divulgação do crescimento no trimestre pelo IBGE). Claro, perdemos feio da China (expansão fantástica de 8,2%) e da Índia (5,5%), como tem sido o padrão nos últimos anos.
Nesta altura, o que vale é olhar para frente. Depois de tudo o que foi dito, da gozação sobre o "pibinho", brasleiro, etc., a análise mais sensata parece ser a do economista Edmar Bacha, em entrevista publicada pela Folha de S. Paulo (11/12). Bacha, um dos pais do Plano Real, disse que vai rever a sua previsão do PIB para 2009, que era de alta de 0,3%. Mas "a economia", vai estar numa trajetória mais forte do que aquilo que a gente estima que seja o potencial de crescimento", observou. E , por isso, continua cravando um crescimento de 6% do PIB brasileiro em 2010.
Dizem - e, a meu ver, não provam - que o crescimento potencial da economia brasileira é de 5%. Sou vacinado contra a euforia desde o tempo do "Brasil Grande", mas isso me parece uma grossa bobagem. É claro que é uma missão quase impossível manter as contas públicas em ordem ou, pelo menos, impedir que os gastos correntes avancem em termos reais, especialmente em um ano eleitoral, como 2010. A infraestrutura do País é reconhecidamente precária. Mas é exagero pensar que as vendas no mercado interno seguirem em elevação, se exportarmos bem mais produtos manufaturados e se os preços das commodities subirem, teremos problemas intransponíveis. Dizer que as pontes vão cair, as estradas vão desbarrancar, teremos apagões cataclísmicos, só haverá lugar no porto para as ratazanas, se a economia brasileira se expandir mais de 5% ao ano é coisa de economistas ortodoxos trancados na sala de aulas e que não permitem abrir as janelas. Problemas do crescimento dão origem a soluções, muito mais rapidamente do que eles pensam. E uma coisa que os empresários brasileiros sabem fazer é se virar.
Sim, os juros, mantidos pelo Banco Central (BC) em 8,75% a.a., embora a inflação projetada para os proóximos 12 meses seja de 4,2%, podem subir. Pressão de demanda, apesar de ela poder ser atendida pela produção interna e pelo aumento das importações, sempre apavora o Comitê de Política Monetária (Copom). Sob esse aspecto é até bom que a expansão da economia tenha sido só de 1,3% no terceiro trimestre. Isso pode acalmar a turminha danada do BC.
Por falar nisso, noticia-se agora que as importações superaram em US$ 4 milhões as importações na segunda semana de dezembro. Certamente é por efeito sazonal e este Natal já estám sendo chamado de "Natal dos importados", com a taxa de câmbio do jeito que está. Este, sem dúvida, é mais um indicador daquela trajetória mais forte, mencionada por Bacha. Com a taxa de desemprego caindo, com a capacidade ociosa da indústria se reduzindo, com o setor de serviços à toda e uma agricultura mais animada com as cotações internacionais, a economia tem tudo para deslanchar no ano que vem.
E, como se viu, não é uma meia crise, como a provocada pela doideira das aplicações imobiliárias no Emirado de Dubai, que vai perturbar a solidez dos bancos brasileiros, cuja regulação é hoje um parâmetro internacional Não por outra razão o o Banco Central do Brasil passou a integrar como membro efetivo os Comitês de Sistema Financeiro Global e de Mercados do Banco para Compensações Internacionais (BIS), o banco central dos bancos centrais. com sede em Basiléia, na Suiça. No BIS, o Brasil só aparecia, há alguns anos, encolhidinho e de cabeça baixa, como devedor relapso. Hoje, não é respeitado apenas pelo montante de suas reservas, que já emplacaram US$ 240 bilhões, mas porque aprendeu, com a inflação endêmica que o vitimava, que o fez trocar de moedas como se troca de roupa, a regular as suas instituições financeiras.
Em síntese, o Brasil só não cresce 5,5% ou 6% em 2010, se pintar outra crise internacional muito forte e se os seus empresários não forem dominados pelo sentimento do medo. Que Deus os poupem desse sentimento, como poupou a JK.

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